SAGARANA – João Guimarães Rosa (Resumo) – Parte 2

5. MINHA GENTE

PERSONAGENS:

Doutor: O narrador é o protagonista. Só sabemos que é um “Doutor” por intermédio da fala de José Malvino, logo no início da narrativa: ( “Se o senhor doutor está achando qlguma boniteza…”), fora isso, nem mesmo seu nome é mencioando.

Santana : Inspetor escolar intinerante. Bonachão e culto. Tem memória prodigiosa. É um tipo de servidor público facilmente encontrável.

José Malvino: Roceiro que acompanha o protagonista na viagem para a fazenda do Tio Emílio. Conhece os caminhos e sabe interpretar os sinais que neles encontra. Atencioso, desconfiado, prestitavo e supersticioso.

Tio Emílio: Fazendeiro e chefe político, para ele é uma forma de afirmação pessoal. É a satisfação de vencer o jogo para tripudiar sobre o adversário.

Maria Irma: Prima do protagonista e primeiro objeto de seu amor. É inteligente, determinada, sibilina. Elabora um plano de ação e não se afasta dele até atingir seus objetivos. Não abre seu coração para ninguém, mas sabe e faz o que quer.

Bento Porfírio : Empregado da fazendo de Tio Emílio. É companheiro de pescaria do protagonista e termina assassinado pelo marido da mulher com quem mantinha um romance.

O CONTO:

O protagonista-narrador vai passar uma temporada na fazenda de seu tio Emílio, no interior de Minas Gerais. Na viagem é acompanhada por Santana, inspetor escolar, e José Malvino. na fazenda, seu tio está envolvido em uma campanha política.

O narrador testemunha o assassinato de Bento Porfírio, mas o crime não interfere no andamento da rotina da fazenda. O narrador tenta conquistar o amor da prima Maria Irma e acaba sendo manipulado pro ela e termina casando-se com Armanda, que era noiva de Ramiro Gouvea.

Maria Irma casa-se com Ramiro. Histórias entrecruzam-se na narrativa: a do vaqueiro que buscava uma rês desgarrada e que provocara os marimbondos contra dois ajudantes; o moleque Nicanor que pegava cavalos usando apenas artimanhas; Bento Porfírio assassinado por Alexandre Cabaça; o plano de Maria Irma para casar-se com Ramiro.

Mesmo contendo os elementos usuais dos outros contos analisados até aqui, este conto difere no foco narrativo na linguagem utilizada nos demais. O autor utiliza uma linguagem mais formal, sem grandes concessões aos coloquialismos e onomatopéias sertanejas. Alguns neologismos aparecem: suaviloqüência, filiforme, sossegovitch, sapatogorof – mas longe da melopéia vaqueira tão gosto do autor.

A novidade do foco narrativo em primeira pessoa faz desaparecer o narrador onisciente clássico, entretanto quando a ação é centrada em personagens secundárias – Nicanor, por exemplo – a onisciência fica transparente.

É um conto que fala mais do apego à vida, fauna, flora e costumes de Minas Gerais que de uma história plana com princípios, meio e fim. Os “causos” que se entrelaçam para compor a trama narrativa são meros pretextos para dar corpo a um sentimento de integração e encantamento com a terra natal.

6 SÃO MARCOS

Personagens :

-Sá Nhá Rita Preta Cozinheira do narrador

-José Narrador

-João Mangolô Feiticeiro (Preto Véio)

Narrativa:

-Calango Frito é o nome do povoado

-José gosta de entrar na mata para caçar, observar a natureza e sempre que passa pela casa de João Mangolô provoca-o

-Um dia caminhando pela mata encontra Aurísio Manquitola. Os dois comentam sobre a “Oração de São Marcos” que é capaz de atrair coisas ruins. Aurísio para provar esta teoria conta alguns causos :

• Gestal da Gaita : Silvério teve de pernoitar com Gestal. Gestal reza a Oração e parte para cima de Silvério com uma peixeira, Silvério desvia e Gestral começa a subir pelas paredes até bater a cabeça no teto e cair no chão sem lembrar de nada.

• Tião Tranjão : Amigado de mulherzinha; espezinhado por Cypriano que era amante de sua amásia. Gestal da Gaita com dó ensina a oração a Tião. Tião é acusado de ofender Filipe Turco e na cadeia apanha dos policiais. A meia-noite Tião reza a oração e consegue escapar, ir para casa e bater na amante, no amante da amante e quebrar a casa toda.

-José, depois deste enontro com Aurísio, continua andando e se lembra da história dos bambus :

• José troca poesias com um “Quem-Será?”, usando os nós dos bambus para deixar as mensagem para seu interlocutor anônimo, chamado por ele de “Quem será?”

-José segue caminhando pela floresta, descansa debaixo de uma árvore e repentinamente fica cego.

-Caminha desesperado pela mata e resolve rezar a oração de São Marcos. Feito isso deixa a floresta e chega a cabana de Mangolô descobrindo que este fizera um feitiço para deixa-lo cego a fim de lhe ensinar respeito.

-José ameaça matar o velho , mas volta a enxergar e resolve ter mais respeito pelo velho feiticeiro.

7. CONVERSA DE BOIS

O conto Conversa de Bois está inserido entre aqueles que compõem o primeiro livro do autor: é o penúltimo entre os nove contos que se encontram em SAGARANA, livro publicado em 1946.

A marca roseana de contador de “causos” aparece logo no primeiro parágrafo: “Que já houve um tempo em que eles conversavam, entre si e com os homens, é certo e discutível, pois que bem comprovado nos livros das fadas carochas ( ..) “

O narrador abre a história contando um fato: houve um tempo em que os bichos conversavam entre eles e com os homens e põe em dúvida se ainda podem fazê-lo e serem entendidos por todos : “por você, por mim, por todo mundo, por qualquer filho de Deus?!”

Manuel Timborna diz que sim, e indagado pelo narrador se os bois também falam, afirma que “Boi fala o tempo todo”, dispondo-se a contar um caso acontecido de que ele próprio sabe notícia. O

narrador dispõe-se a escutá-lo, mas ” só se eu tiver licença de recontar diferente, enfeitado e acrescentando pouco a pouco.” Timborna concorda e inicia sua narração.

O narrador nos dirá que o fato começou na encruzilhada de Ibiúva, logo após a cava do Mata-Quatro, em plena manhã, por volta das dez horas, quando a irara Risoleta fez rodopiar o vento. A cantiga de um carro de bois começou a chegar, deixando ouvir-se de longe.

Tiãozinho, o menino guia, aparece na estrada: “(…) um pedaço de gente, com a comprida vara no ombro, com o chapéu de palha furado, as calças arregaçadas, a camisa grossa de riscado, aberta no peito(…) Vinha triste, mas batia ligeiro as alpercatinhas, porque, a dois palmos da sua cabeça, avançavam os belfos babosos dos bois de guia – Buscapé, bi-amarelo (…) Namorado, caracú sapiranga, castanho-vinagre tocado a vermelho.(…) Capitão, salmilhado, mais em branco que amarelo, (…) Brabagato, mirim malhado de branco e de preto. ( …) Dançador, todo branco (…) Brilhante, de pelagem braúna, ( …) Realejo, laranjo-botineiro, de polainas de lã branca e Canindé, bochechudo, de chifres semilunares(…).”

O carreiro Agenor Soronho, “Homenzarrão ruivo, (…) muito mal encarado” é apresentado aos leitores. Lá vai o carro de bois, carregado de rapaduras, dirigido por Soronho que tinha um orgulho danado de nunca ter virado um carro, desviado uma rota.

Quem ia triste era Tiãozinho, fungando o tempo inteiro, semi-adormecido pela vigília do dia anterior, deixava um fio escorrendo das narinas. Ia cabisbaixo e infeliz: o pai morrera na véspera e estava sendo levado de qualquer jeito:

“Em cima das rapaduras, o defunto. Com os balanços, ele havia rolado para fora do esquife, e estava espichado, horrendo. O lenço de amparar o queixo, atado no alto da cabeça, não tinha valido nada : da boca, dessorava um mingau pardo, que ia babujando e empestando tudo. E um ror de moscas, encantadas com o carregamento duplamente precioso, tinham vindo também.”


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