O GUARANI – José de Alencar ( Resumo) – Parte 6

Os Aimorés

Capítulo I Partida

D. Antônio passou a noite em claro, escrevendo e fazendo planos. Quando amanheceu, chamou o filho Diogo e disse-lhe que Peri havia lhe alertado sobre a invasão dos Aimorés, que Diogo deveria partir imediatamente para o Rio de Janeiro.

Ainda não compreendendo o que o pai lhe pedia, Diogo de Mariz não quer partir, mas depois o pai lhe explica que quer que ele vá ao Rio para pedir ajuda dos fidalgos, enquanto que ele resistiria em companhia dos homens. D. Diogo aceita partir.

Enquanto isso, Loredano, Rio Soeiro e Bento Simões lideram o descontentamento dos aventureiros.

Aires Gomes vai escolher os homens para que acompanhem D. Diogo. Entre eles, está escolhido Loredano, o que poria a perder todo o plano dos três:

“Alguns minutos depois, D. Diogo com o coração cerrado e as lágrimas nos olhos, apertava nos braços sua mãe querida, Cecília que ele adorava, e Isabem que já amava também como irmã.

Depois, desprendendo-se com um esforço, encaminhou-se apressadamente para a escada e desceu ao vale; aí recebeu a bênção do pai e abraçando Álvaro saltou na sela do cavalo, que Aires Gomes tinha pela rédea.

A pequena cavalgata partiu; com pouco sumia-se na volta do caminho.”

Capítulo II Preparativos

Ao mesmo tempo em que D. Antônio conversava com o filho no gabinete e o instruía sobre a viagem, Peri examinava suas armas, na cabana, carregava as pistolas, estava pronto para qualquer eventualidade.

Ainda não sabia bem como colocar fim aos planos dos traidores; sabia apenas que eles se reuniriam naquela manhã.

Encontrando Cecília no jardim, perguntou-lhe se estava triste com ele, ela disse que não, mas que gostaria que eles se convertesse ao cristianismo. Cecília fora criada no fervor religioso e agastava-a saber que Peri não tinha Deus cristão dentro de si. Mas o índio observa que não pode deixar a vida que leva justamente para servi-la.

“- Peri, selvagem, é o primeiro dos seus; só tem uma lei, uma religião, é sua senhora; Peri, cristão, será o último dos teus; será um escravo, e não poderá defender-te.

(…)

– Se Peri fosse cristão, e um homem te ofender, ele não poderia matá-lo, porque o teu Deus manda que um homem não mate outro. Peri selvagem não respeita ninguém; quem ofende sua senhora é seu inimigo e morre!”

O índio pede a ela que escreva um bilhete a Álvaro e nele coloca o nome dos três traidores: Loredano, Bento Simões e Rui Soeiro. Pede que ela entregue a carta à tarde, antes não.

Álvaro e Isabel se encontram um instante, por acaso, na esplanada. A menina esforça-se por lhe devolver o bracelete. Ele não aceita.

À tardinha, chegaram seis aventureiros que vieram oferecer ajuda a D. Antônio; entre eles estava mestre Nunes, o mesmo que um ano antes dera abrigo a Loredano, ainda Frei Angelo de Luca.

Capítulo III Verme e Flor

“Eram onze horas da noite.

O silêncio reinava na habitação e seus arredores; tudo estava tranqüilo e sereno. Algumas estrelas brilhavam no céu; os sopros escassos da viração, sussuravam na folhagem.”

Mas um vulto subiu ligeiramente a escada e reuniu-se aos homens que faziam a guarda. Vinte homens, comandados por Loredano, estavam dispostos a invadir a casa. Loredano pede a Rui que lhe segure uma tábua sobre o precipício que separa o quarto de Ceci da esplanada: diz que hoje esta mulher será dele, de qualquer maneira e que se encontrará com os outros homens dentro da casa.

Segurando a tábua, Rui é tomado por uma tentação: matar Loredano, ficar com o tesouro, deixar esta criatura diabólica cair no precipício. Mas o ex-frei tinha já amarrado a corda a um caibro, passa o perigo.

Entrando no quarto de Ceci, Loredano contempla-a.

A menina sorria em seu sono, graciosa e indefensável…

“A paixão brutal o devorava escaldando-lhe o sangue nas veias e fazendo saltar-lhe o coração.”

Capítulo IV Na Treva

Loredano não acompanhara D. Diogo: a poucos quilômetros do Paquequer, inventara uma cilha quebrada e voltara à casa.

Mestre Nunes e Aires Gomes, em conversa, descobrem que Loredano era o Frei Ângelo di Luca, mas Rui Soeiro os fechara a porta achave do cubículo onde estavam por dormir, prendendo-os, impedindo-os de agir em qualquer circunstância.

Loredano estava perto do leito da menina, e em sil6encio abriu a gaveta, pegou algumas roupas e embrulhou: ia raptá-la, nem que ela gritasse, mas não queria que na viagem ao Rio de Janeiro, nada lhe faltasse, por isso separou as roupas.

Cecília, nessa hora, sonhava com Peri, sorria no sonho e fez com a boca como quem beijasse.

Loredano inclinou-se sobre ela.

Capítulo V Deus Dispõe

“O braço de Loredano estendeu-se sobre o leito; porém a mão que se adiantava e ia tocar o corpo de Cecília estacou no meio do movimento, e subitamente impelida foi bater de encontro à parede.

Uma seta, que não se podia saber de onde vinha, atravessara o espaço com a rapidez de um raio, e antes que se ouvisse o sibilo forte e agudo pregara a mão do italiano ao muro do aposento.”

Uma outra seta quase lhe alcançou a cabeça. E louco de dor, Loredano fugiu para o jardim. Peri saltou no espaço vazio do precipício e veio para o quarto: não tinha tempo de seguir e matar Loredano, como já o tinha feito aos dois cúmplices, queria apenas cuidar que a menina estivesse protegida.

Arrumou todo o aposento ( essa Ceci tinha um sono de pedra, mesmo!), dispôs as roupas de novo na cômoda, limpou o sangue e fechou a porta à chave. Depois, sentou-se à soleira da porta e esperou. Eram quatro horas da manhã.

O que se passara antes de Peri entrar naquele quarto, antes que flechasse a mão de Loredano? Investigando, notou que todo o edifício tinha feixes de palha ao redor, que os planos de Loredano incluíam incendiar a casa de D. Antônio de Mariz… foi aí que correu para o quarto da menina e evitou uma tragédia maior.

Capítulo VI Revolta

Depois de refletir sobre o que acontecera, resolveu entrar pela casa e chamar D. Antônio.

Loredano já encontrara os outros cúmplices e descobrira a morte de Bento Simões que aparecera na alpendrada com sinais de estrangulamento violento. Obra de Peri.

Desesperado, o italiano, diz aos homens que deve haver ali uma “víbora traiçoeira”e que a esta hora hora Rui deverá também ter morrido.

Peri fala com D. Antônio e logo aparecem também Aires Gomes e mestre Nunes. D. Antônio resolve, então, parecer entre os aventureiros, porque , ouvida a narração, não se conformava com aquilo.

“- Aqui me tendes! Dizei o que quereis de D. Antônio de Mariz, e dizei-o claro e breve. Se for de justiça, sereis satisfeitos; se for uma falta, tereis a punição que merecerdes.

Nem um dos aventureiros ousou levantar os olhos; todos emudeceram.

– Calai-vos? … Passa-se aqui então alguma coisa que não vos atreveis a revelar? Acaso ver-me-ei obrigado a castigar severamente um primeiro exemplo de revolta e desobediência? Falai! Quero saber o nome dos culpados!”

Houve um sil6encio e Loredano, que não tivera coragem para se manifestar,, adiantou-se para dizer que não havia culpados, mas apenas homens que eram tratados como cães, que eram sacrificados a um capricho de D. Antônio e que estavam resolvidos a reivindicarem seus lugares de homens e de cristãos. Valiam menos que um herege ( Peri).

D. Antônio ouviu tudo e depois falou:

“- Silêncio, vilões! Esqueceis que D. Antônio de Mariz ainda tem bastante força para arrancar a língua que o pretendesse insultar? Miseráveis, que lembrais o dever como um benefício! Arriscastes a vossa vida para defender-me? … E qual era vossa obrigação, homens que vendeis o vosso braço e sangue ao que melhor paga? Sim! Sois menos que escravos, menos que cães, menos que feras! Sois traidores infames e refeces!… Mereceis mais do que a morte; mereceis desprezo.

Os aventureiros, cuja raiva fermentava surdamente, não se contiveram mais; das palavras de ameaça passaram ao gesto.

– Amigos! gritou Loredano aproveitando habilmente o ensejo. Deixareis que vos insultem atrozmente, que vos cuspam o desprezo na cara? E por que motivo!…

– Não, nunca! Vociferaram os aventureiros furiosos.”

E todos, raivosos, se puseram em torno a D. Antônio que, sereno, majestoso e calmo, era ali não a vítima, mas o senhor que mandava.

Capítulo VII Os Selvagens

Estavam lá os aventureiros ao redor de D. Antônio, nas ninguém se atrevia a feri-lo com qualquer faca ou adaga.

Até que Loredano, destacando-se do meio dos homens, agarrando-se à sua faca, quis fazê-lo. Mas o fidalgo abriu a camisa e, de peito à mostra, esperou o golpe. Depois como se ele não viesse, com um murro bem dado, jogou Loredano de costas sobre o pavimento.

E pedindo que todos abaixassem as armas, disse que castigaria sem perdão a todos.

“- Dentro de uma hora, continuou o cavalheiro apontando para o corpo de Loredano, este homem será justiçado à frente da banda; para ele não há julgamento; eu o condeno como pai, como chefe, como um homem que mata um cão ingrato que o morde. É ignóbil demais para que o toque com as minhas armas; entrego-o ao baraço e ao cutelo.”

Alguns aventureiros, depois que D. Antônio recolheu-se, vieram entregar-se a ele dizendo que os homens preparavam-se para atacá-lo. Já colocavam fogo na pallha quando Peri jogou ao pátio o cadáver de Rui.

João Feio se apresentou como mediador entre D. Antônio e os rebeldes, mas o fidalgo mandou avisá-los:

“- Dize a teus companheiros, rebelde, que D. Antônio de Mariz manda e não discute condições: que eles estão condenados; e verão se sei ou não cumprir o meu juramento.”

Contados os homens, D. Antônio tinha catorze e os inimigos eram vinte e tantos.

As mulheres, acordadas, foram para o oratório rezar.

Mas o pior estava por vir: quando Peri estendeu os olhos para a linha do horizonte, viu que chegavam os Aimorés:

“Homens quase nus, de estatura gigantesca e aspecto feroz; cobertos de peles de animais e penas amarelas e escarlates, armados de grossas clavas e arcos enormes, avançavam soltando gritos medonhos.”

Capítulo VIII Desânimo

Os índios atacaram com uma fúria atroz, sob o comando da índia que, irada, os incitava à fúria. Choviam setas sobre portas e janelas e chegou a haver um armistício entre os revoltosos e a família, que vivia momentos desesperados.

Peri estabelecera no quarto de Ceci uma espécie de quartel-general, porque não partilhava do desânimo das pessoas e tinha fé inabalável que venceriam.

A família e a casa tinham perdido a alegria, estavam todos desanimados. Peri, junto com eles, não tirava os olhos de sua dona, que parecia desfalecida; se algum índio investia contra a casa e , gritando, assustava a menina, Peri dava-lhe um tiro e o matava. E como se Ceci não comesse, nervosa e amedrontada, arriscava-se e ia à floresta buscar um favo de mel, um fruto ou uma caça diferente.

D. Lauriana rezava e Isabel seguia com os olhos o amado, com medo que ele morresse a cada ataque.

Álvaro evitava Isabel porque tinha prometido a D. Antônio que desposaria Ceci; no entanto, tinha medo daquela paixão avassaladora que agora lhe tomava o peito:

“Dizia a si mesmo que não amava, que nunca amaria Isabel! Entretanto, sabia que se ele a visse outra vez como no momento em que lhe confessara seu amor, cairia de joelhos a seus pés, e esqueceria o dever, a honra, tudo por ela.”

Capítulo IX Esperança

Álvaro confessa a Isabel que tem medo de amá-la porque prometera a D. Antônio que seria marido de Cecília. Isabel confessa a Álvaro que pensa em matar-se para dar lugar ao amor entre Ceci e ele.

Álvaro, tocado de emoção, diz que ela afaste tais pensamentos. E diz que aceita a vida que Isabel lhe oferecia.

Peri estava pensativo, e disse a Ceci que tinha um jeito para salvar a todos, que sabia uma maneira como isso pudesse se realizar.

E, entrando no quarto de Ceci, quebra o arco, tira os ornatos, despede-se de seus instrumentos guerreiros.

O que estaria intentando Peri?

Capítulo X Na Brecha

Quando Peri quebrou suas armas de guerra, Loredano passeava do outro lado da esplanada, e estava pensando no que fazer para apoderar-se de Ceci e destruir D. Antônio.

Se não pudesse destruir a porta de entrada, destruiria a parede. Martim Vaz pede a Loredano umas duas horas antes que consolidem o plano. Nesse momento, João feio apareceu na entrada do alpendre:

“- Renegado e sacrílego, dou-te uma hora para irdes entregar-te a D. Antônio de Mariz, e obter dele o nosso perdão e o teu castigo. Se não o fizerdes dentro desse tempo, é comigo que te hás de avir.”

Mas o italiano fez um movimento de raiva e, depois, conteve-se.

Capítulo XI O Frade

Assim que ouviu as primeiras pancadas, Peri desconfiou do plano de Loredano e pregou todas as portas de comunicação com a sala. Por dentro da casa, foi dar na despensa dos aventureiros. Esperou no escurou e viu quando Loredano e um companheiro de aproximaram.

Podia matá-lo, mas não o fez.

Jogou no fogo as roupas dos rebeldes, na esperança de que a fumaça os fizesse sentir sede.

Depois pôs-se a refletir. Estava feliz, certo de que venceria os aimorés.

Capítulo XII Desobediência

Álvaro pensava em Isabel, sua alma lutava, mas já sem força, contra o amor ardente e profundo que o dominava.

“Conhecia que amava Isabel, e que a amava como nunca tinha amado Cecília; a afeição calma e serena de outrora fora substituída pela paixão abrasadora.

Seu nobre coração revoltava-se contra essa verdade; mas a vontade era impotente contra o amor; não podia mais arrancá-lo do seu seio; não o desejava mesmo.

Álvaro sofria; o que dissera na véspera a Isabel era realmente o que sentia; não se exagerara; no dia em que deixasse de amar Cecília e fosse infiel à promessa feita a D. Antônio, se condenaria como um homem sem honra e sem lealdade. “

Os planos de Peri deixam-se entrever pelo leitor: ele pede a Álvaro que o espere, que vai procurar ajuda longe e que se morrer, para enterrá-lo junto com suas armas. Despede-se de todos em silêncio, pede para beijar a mão de D. Antônio e jamais dizer a Cecília o que aconteceu.

D. Antônio pergunta-lhe o que pretende e, surpreso, descobre que Peri quer morrer para salvar a vida de Ceci e família.

Ceci acorda e proíbe Peri de fazer tal maluquice, mas Peri a desobedece pela primeira vez e sai:

“- Perdoa a Peri, senhora!

Cecília soltou um grito e precipitou-se para a janela. Não viu mais Peri.

Álvaro e os aventureiros, de pé sobre a esplanada, tinham os olhos fitos sobre a árvore que se elevava a um lado da casa, na encosta oposta, e cuja folhagem ainda se agitava.

Longe descortinava-se o campo dos Aimorés; a brisa que passava trazia o rumor confuso das vozes e gritos dos selvagens.”

Capítulo XIII Combate

Eram seis horas da manhã. Os Aimorés, ainda sentados ao redor de troncos já meio reduzidos a cinzas, faziam os preparativos para um decisivo ataque à casa de D. Antônio; preparavam, naquele momento, flechas incendiárias para queimar a moradia do fidalgo , uma vez que “não podendo vencer os inimigos pelas armas, contavam destruí-los pelo fogo.”

E enquanto isso era feito, demonstravam todo o ódio de seus corações terríveis. Uma menina, olhando a mata, soltou um grito, apontando para um lugar. O inimigo caiu no meio deles, sem que pudessem distinguir de onde viera: Era Peri.

“houve uma confusão, um turbilhão horrível de homens que se repeliam, tombavam e se estorciam; de cabeças que se levantavam e outras que desapareciam; de braços e dorsos que se agitavam e se contraíam, como se tudo isso fosse partes de um só corpo, membros de algum monstro desconhecido debatendo-se em convulsões.

No meio desse caos via-se brilhar aos raios de sol com reflexos rápidos e luzentes a lâmina do montante de Peri, que passava e repassava com a velocidade do relâmpago quando percorre as nuvens e atravessa o espaço.”

Peri lutava, decepou a mão do pajé; os guerreiros voltaram-se contra ele para vingar seu chefe. E , lembrando-se de Cecília, ajoelhou.

Capítulo XIV O Prisioneiro

Entregava-se?

Os selvagens precipitaram-se sobre o inimigo, que já não se defendia e , portanto, considerava-se vencido.

O pajé fez um movimento enérgico, que dava a entender que era seu o prisioneiro. Os outros baixaram as armas. Peri compreendeu o que viria depois disso.

Depois, foi levado até uma árvore, de onde podia contemplar as pessoas na casa: tudo o que mais amava estava ali, diante dos seus olhos. E a índia aimoré o contemplava com profunda admiração. Só então compreendeu que ela era a “esposa da morte”: ela o abraçava e dizia coisas que ele não entendia, havia lubricidade nele, seu corpo exalava desejos , mas ele negava cada coisa que ela queria, ou trazia para ele: comida , carinhos.

Por fim, a moça cortou as cordas que o prendiam e num gesto largo, embora ele não entendesse a palavra aimoré, disse:

-Tu és livre. Partamos!

A índia apaixonara-se pelo prisioneiro.


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