Capítulo VII O precipício
Peri tinha parado para observar Cecília de longe quando Aires Gomes o segurou pelo braço. Ele recebera ordens de D. Lauriana para levar o índio à casa e apresentá-lo a D. Antônio de Mariz.
Peri fica bravo, diz que não admite ser levado e Aires Gomes e sai andando calmamente. O escudeiro faz tudo para detê-lo, mas Peri o amarra com um cipó a uma árvore e vai incumbir-se de Cecília que, pensativa, olhava pela janela do quarto, pensando sobre a descoberta que fizera: Isabel amava Álvaro e não desejava magoá-la:
“- Pobre Isabel! murmurou ela; como deve ter sofrido!
Esquecia-se de si para pensar em sua prima; mas as lágrimas que saltaram de seus olhos, e o soluço que fez arfar os seios mimosos a chamaram ao seu próprio sofrimento.
Ela, a menina alegre e feiticeira que só aprendera a sorrir, ela, o anjinho do prazer que bafejava tudo quanto a rodeava, achou um gozo inefável em chorar. Quando enxugou as lágrimas, sofria menos, sentiu-se aliviada; pôde então refletir sobre o que havia passado. (…)
Ficou por muito tempo pensativa; consultou o seu coração e conheceu que não amava assim; nunca a afeição que tinha a Álvaro podia obrigá-la a odiar sua prima, a quem queria como irmã.”
Sabia que de agora em diante teria que quebrar um dos “fios de ouro” que fazia seus dias felizes, Álvaro era o amor de sua prima, não poderia, portanto, ser o seu.
“Estes pensamentos adejavam ainda na mente de Cecília enquanto ela olhava pensativa o fosso, onde tinha caído o objeto que viera modificar a sua existência.
– Se eu pudesse obter essa prenda? dizia consigo. Mostraria a Isabel como eu a amo e quanto a desejo feliz.”
A prenda era o bracelete que Álvaro depositara dera a Cecília.
Peri, vendo sua senhora triste, olhando o precipício, adivinhou-lhe os pensamentos e, enfrentando os animais peçonhentos que ali habitavam, desceu ao fosso em busca do mimo que Cecília desejava oferecer a Isabel.
Capítulo VIII O Bracelete
Observe como o narrador tenta realçar os traços do destemor do herói, fazê-lo bom, correto, capaz dos maiores esforços pelo amor que tem a Ceci:
“O que Cecília viu, debruçando-se à janela, gelou-a de espanto e horror.
De todos os lados surgiam répteis enormes que, fugindo pelos alcantis, lançavam-se na floresta; as víboras escapavam das fendas dos rochedos, e aranhas venenosas suspendiam-se aos ramos das árvores pelos fios da teia.
No meio do concerto horrível que formava o sibilar das cobras e o estrídulo dos grilos, ouvia-se o canto monótono e tristonho da cauã no fundo do abismo.
(…)
O índio tinha desaparecido; apenas se via o reflexo da luz do facho.
Cecília, pálida e trêmula julgava impossível que Peri não estivesse morto e já quase devorado por esses monstros de mil formas; chorava o seu amigo perdido, e balbuciava preces pedindo a Deus um milagre para salvá-lo.
(…)
Em um desses momentos um dos insetos que pupulavam no meio da folhagem agitada esvoaçou, e veio pousar no seu ombro; era uma esperança, um desses lindos coleópteros verdes que a poesia popular chama de lavandeira-de-deus.
A alma nos momentos supremos de aflição suspende-se ao fio mais tênue da esperança; Cecília sorriu-se entre as lágrimas, tomou a lavandeira entre os seus dedos rosados e acariciou-a.
Precisava esperar; esperou.”
Chama por Peri, recebe como resposta um pedido de espera e aterroriza-se quando ouve, do fundo do abismo, um grito agudo.
Desmaia e quando acorda Peri estava junto dela e lhe apresentava sorrindo uma bolsinha de malha, onde havia uma caixinha de veludo escarlate.
Ela confessa que teve medo por ele. E Peri diz que apenas sente uma coisa: não ter nada de valor para dar a ela.
Ceci teve pena dele E pede apenas que ele busque para ela uma flor, com a qual ornará o cabelo.
Peri vai buscar para ela uma flor escarlate, com a qual Ceci enfeita os cabelos. ceci vai para o quarto da prima, escondendo no seio a caixinha de veludo.
Isabel estava sentada, triste e Ceci diz a ela que a considera como uma irmã, que não devem ter segredos uma para a outra.
“- Segredos! Tinha um que já te pertence! murmurou Isabel.
(…)
– Quero tornar-te alegre, respondeu a menina acariciando-a; quero que deixes esse rostinho melancólico, e me abraces como tua irmã. Não o mereço?
– Oh! sim, minha irmã; tu és um anjo de bondade, mas o teu sacrifício é perdido; eu não posso ser feliz, Cecília.
– Por quê?
– Porque ele te ama! murmurou Isabel.
A menina corou.
– Não digas isto, é falso.
– É bem verdade.
– Ele te disse?
– Não, mas adivinhei-o antes de ti mesma.”
Cecília diz que não importa o que Álvaro sinta a respeito dela e dando-lhe a caixinha de veludo, abrindo-a, atou o bracelete ao braço da prima e disse-lhe que o pai tinha dado a ela um igual, que havia pedido dois iguais a fim de oferecer um à prima, a fim de que parecessem irmãs.
Capítulo IX Testamento
No mesmo instante em que Ceci deixava o quarto de Isabel, D. Antônio de Mariz subia a esplanada ; tinha um ar de grande preocupação. Viu Álvaro e Diogo que conversavam junto à cerca e pediu-lhes que o acompanhassem até seu gabinete de armas, “pequena saleta que ficava ao lado do oratório, e que nada tinha de notável, a não ser a portinha de uma escada que descia para uma espécie de cava ou adega servindo de paiol.
Na ocasião em que se abriram os alicerces da casa, os obreiros descobriram um socavão profundo talhado na pedra; D. Antônio, como homem previdente, lembrando-se da necessidade que teria para o futuro de não contar com os seus próprios recursos, mandou aproveitar esta abóbada natural, e fazer dela um depósito que pudesse conter algumas arrobas de pólvora.
O fidalgo achara ainda uma outra grande vantagem na sua lembrança; era a tranqüilidade de sua família, cuja vida não estaria sujeita a um descuido qualquer doméstico ou aventureiro; porque no seu gabinete d’armas ninguém entrava, senão estando ele presente.”
D. Antônio diz querer falar sobre um objeto de família, e que os chamara para que ouvissem “uma coisa que vos interessa e a mim antes do que a todos.”
Diz que tem sessenta anos e que pode morrer a qualquer hora. Apesar de os moços tentarem convencê-lo do contrário, D. Antônio prossegue: tem que fazer seu testamento… Diz que transmite a Diogo o legado de honra que recebeu de seu pai, mas que precisa assegurar-se da felicidade de Cecília e que a Álvaro é que a confia. Aperta os moços de encontro ao peito. E acrescenta:
“- O que me resta dizer-vos é difícil; custa sempre confessar uma falta, ainda mesmo quando se fala a almas generosas. Tenho uma filha natural: a estima que voto a minha mulher e o receio de fazer essa pobre menina corar de seu nascimento, obrigaram-me a dar-lhe em vida o título de sobrinha.
– Isabel? … exclamou D. Diogo.
– Sim, Isabel é minha filha. Peço a ambos que a trateis sempre como tal; que a ameis como irmã, e a rodeeis de tanto afeto e carinho, que ela possa ser feliz, e perdoar-me a indiferença que lhe mostrei e a infelicidade voluntário que causei à sua mãe.”
Os rapazes se comprometem a fazer a vontade do velho. Depois do acerto, D. Antônio manda buscar Peri, dizendo que deve mandá-lo de volta à tribo.
O índio entra, recebe a notícia, Cecília chora quando tem que mandá-lo voltar. Peri chora também, mas vai obedecer a ordem da única pessoa a quem mais ama no mundo, por quem deixara a tribo, os guerreiros, a mãe.
Capítulo X Despedida
“D. Antônio aproximou-se de Peri e apertou-lhe a mão:
– O que te devo, Peri, não se paga; mas sei o que devo a mim mesmo. Tu voltas à tua tribo; apesar da tua coragem e esforço, pode a sorte da guerra não te ser favorável, e caíres em poder de algum dos nossos. Este papel te salvará a vida e a liberdade; aceita-o em nome de tua senhora e no meu.”
A Peri, só resta obedecer. Ceci lhe coloca ao pescoço uma cruz de ouro.
Peri diz, então, que gostaria de ficar porque os Aimorés invadiriam a fazenda Paquequer em três dias. D. Antônio se assusta e pergunta como ele sabe disso. Peri diz que seguira os índios.
D. Antônio tinha encontrado pela manhã os corpos dos dois selvagens que Peri matara para defender Ceci, era essa sua preocupação e agora, observando o corpo de Peri sob o manto diáfano, vê que ele está ferido.
Descobre também que defendera da morte, com seu próprio corpo, o corpo de sua senhora. D. Antônio pede que ele fique, Cecília está feliz, D. Lauriana o aceita de volta:
“O índio lançou um último olhar à sua senhora, e caminhou para a porta.
– Peri! exclamou Cecília, fica; tua senhora manda.
Depois correndo para seu pai, e sorrindo-lhe entre as lágrimas, disse com um rom suplicante:
– Não é verdade? Ele não deve partir mais. Vós não podeis mandá-lo embora depois do que fez por mim?
– Sim! A casa onde habita um amigo dedicado como este, tem um anjo da guarda que vela sobre a salvação de todos. Ele ficará para sempre.”
Quando chegou à casa e vendo aquela cena, Aires Gomes não pôde entender nada. Justamente quando tinha se dirigido a D. Antônio a fim de pedir licença para esquartejar aquele bugre…
Mais: D. Antônio fê-lo apertar a mão de Peri.
Capítulo XI Travessura
Na tarde desse mesmo dia, Cecília e a prima, ambas lindas e vestidas de branco, vão passear. Vendo D. Álvaro nas proximidades, junto ao pai, pede a ambos que as acompanhe ao passeio. O pai consente. Cecília tinha planos de aproximar a prima de Álvaro…
Álvaro ainda guardava a vaga impressão de que, durante o jantar, a menina o evitara, mas diante de sua alegria, agora, esquecia os ressentimentos todos.
Cecília dá um jeito de deixar Isabel e Álvaro sozinhos, pretextando conversar com o pai, contar-lhe um segredo.
“Cecília separou-se de Isabel; chegando-se para o fidalgo, tomou-lhe o braço.
– Tende paciência por um instante, Sr. Álvaro, disse ela voltando-se: conversai com Isabel; dizei-lhe vossa opinião sobre aquele lindo bracelete… Ainda não o vistes?
E sorrindo afastou-se ligeiramente com seu pai; o segredo que ela tinha era a travessura que acabava de praticar, deixando Álvaro e Isabel sós, depois de lhes ter lançado uma palavra, que devia produzir seu efeito.
A emoção que sentiram os dois moços ouvindo o que dissera Cecília é impossível de descrever.
Isabel suspeitou o que se tinha passado; conheceu que Cecília a enganara para obrigá-la a aceitar o presente de Álvaro; o olhar que sua prima lhe lançara afastando-se com o pai, lho tinha revelado.
Quanto a Álvaro, não compreendia coisa alguma, senão que Cecília tinha-lhe dado a maior prova de seu desprezo e indiferença; mas não podia adivinhar a razão por que associara Isabel a esse ato que devia ser um segredo entre ambos.”
Álvaro e Isabel conversam; estão perplexos com a atitude de Cecília. Isabel confessa a Álvaro que o ama e o rapaz:
“Por fim vacilou: reclinando sobre o ombro de Álvaro, como uma flor desfalecida sobre a haste, murmurou:
– Porque… vos amo! “
Capítulo XII Pelo ar
“Álvaro ergueu-se como se os lábios da moça tivessem lançado nas suas veias uma gota do sutil veneno dos selvagens que matava com um átomo .
Pálido, atônito, fitava na menina um olhar frio e severo; seu coração leal exagerava a afeição pura que votava a Cecília a tal ponto, que o amor de Isabel lhe parecia quase uma injúria; era ao menos uma profanação.
A moça com as lágrimas nos olhos, sorria amargamente; o movimento rápido de Álvaro tinha trocado as posições; agora era ela que estava ajoelhada aos pés do cavalheiro.”
Álvaro pede que nunca mais falem sobre tais declarações e que o considere apenas um irmão:
“- Não cometestes um crime, nem precisais de um juiz; mas se quereis um irmão para consolar-vos, tendes em mim um dedicado e sincero.
– Um irmão! … exclamou a moça. Seria ao menos uma afeição.
– E uma afeição calma e serena que vale bem outras, D. Isabel.”
Lembrando-se do que lhe pedira D. Antônio e sabendo a triste origem daquela moça, foi tomado de súbita simpatia e pede a ele que não recuse como irmão. Isabel conta que sempre sofrera, que era filha de duas raças inimigas, e que sua mãe fez com que ela odiasse a uma “e o desdém com que me tratam fez-me desprezar a outra.
– Pobre moça! murmurou Álvaro lembrando-se segunda vez das palavras de D. Antônio de Mariz.
– Assim isolada no meio de todos, alimentando apenas o sentimento amargo que minha mãe deixara no meu coração, sentia a necessidade de amar alguma coisa. Não se pode viver somente de ódio e desprezo! …
– Tendes razão, Isabel.
– Inda bem que me aprovais. Precisava amar; precisava de uma afeição que me prendesse à vida. Não sei como, não sei quando, comecei a amar-vos; mas em silêncio, no fundo de minha alma.
A moça embebeu um olhar nos olhos de Álvaro.
– Isso me bastava. Quando vos tinha olhado horas e horas, sem que percebêsseis, julgava-me feliz; recolhia-me com a minha doce imagem, e conversava com ela, ou adormecia sonhando bem lindos sonhos.”
Álvaro enlaça a cintura da moça, quase que abraçando-a, mas se contém, com receio de ser mal interpretado. Isabel diz a ele que Cecília descobrira seu amor por Álvaro e que, como consolo, presenteou a prima com o bracelete, que tudo fora um engano.
O rapaz pede que Isabel o considere apenas um irmão, que nada mais poderia haver entre eles.
“Estava agora convencido que Cecília não o amava, e nunca o havia mado; e esta descoberta tinha lugar no mesmo dia em que D. Antônio de Mariz lhe dava a mão de sua filha!
Sob o peso da mágoa dolorosa, como é sempre a primeira mágoa do coração, o cavalheiro afastou-se distraído, com a cabeça baixa; caminhou sem direção, seguindo a linha que lhe traçavam os grupos de árvores, destacados aqui e ali sobre a campina.”
Álvaro andava assim, distraído, quando viu uma seta fincar-se no chão, perto dele; reconheceu nela as cores azul e branco de Peri. Outras setas foram aparecendo, em seguida, à sua frente, como se indicando um caminho que o moço seguiu.
Peri queria que Álvaro seguisse as flechas; assim que elas cessaram, Álvaro entrou no arvoredo a tempo de ver que três homens passavam pelo lugar que há pouco tinha deixado e que, de pistolas em punho, caminhavam cautelosamente.
Álvaro ia segui-los, mas Peri, surgido do mato, disse-lhe ao ouvido:
“- São eles.
– Eles quem?
– Os inimigos brancos.
– Não te entendo.
– Espera: Peri volta.
– E o índio desapareceu de novo nas sombras da noite que avançava rapidamente.”
Capítulo XIII Trama
Depois que Peri e Álvaro passaram, Loredano sentiu raiva por ter deixado passar seus inimigos; pensou, por instantes, em chamar seus capangas para matá-los, mas desistiu.
Os companheiros achavam que a voz ouvida pertencesse a um espírito, não um homem:
“O italiano sorriu de escárnio.
– Os espíritos têm mais que fazer para se ocuparem com o que vai por este mundo; guardai as vossas abusões, e pensemos seriamente no partido que devemos tomar.
– Lá quanto a isso, Loredano, é escusado; ninguém me tira que anda em tudo isto uma coisa sobrenatural.
– Quereis calar-vos, estúpido carola! replicou o italiano com impaciência.”
Loredano fez o comparsa se calar e jurar que não acreditaria em fantasmas e , depois, ficaram os três pensativos. Loredano media a situação com audácia; era este homem tecido de contradições: sua alma, aprisionada desde cedo, conseguira libertar-se por força da ambição e, agora:
“Então, no delírio dos instintos materiais, surgiram duas paixões violentas.
Uma era a paixão do ouro; a esperança de poder um dia deleitar-se na contemplação do tesouro fabuloso que como Tântalo ele ia tocar e fugia-lhe.
A outra era paixão do amor; a febre que lhe requeimava o sangue quando via aquela menina inocente e cândida, que parecia não dever inspirar senão afeições castas.
A luta que naquele momento o agitava, dava-se entre essas duas paixões. Devia fugir e salvar o seu tesouro, perdendo Cecília?
devia ficar e arriscar a vida para saciar seu desejo infrene?”
Tudo passava pela cabeça de Loredano, que se dirigiu aos companheiros, dizendo:
“- Só há duas coisas a fazer, ou entrarmos na casa, ou fugirmos daqui mesmo; é preciso resolver. Que pensais vós?”
Rui Simões sugeriu que fugissem, mas Rui Soeiro considerou que se o fizessem , sozinhos os três pelo sertão, evitando o povoado, jamais sobreviveriam. Resolveram voltar à casa, mas passaram o dia pelo mato, comendo frutos silvestres.
Ao se dirigirem para a casa, quando anoitecera, não se deram conta de que passavam por Peri: “Era Peri; havia um quarto de hora que ele acompanhava os aventureiros como a sua sombra; o índio deixando D. Antônio dera pela sua ausência e conjeturando que eles tramavam alguma coisa, lançou-se em sua procura.”
Planejava matá-los, mas um deles caiu numa corrida que apostavam; o índio, então, encontrou Álvaro e os apontou como inimigos.
Intuiu que devia esperá-los quando chegassem perto, rente à cerca, para que os pudesse matar um a um, mas ouviu a voz de Cecília que vinha do passeio com o pai e a prima.
“A mão do índio, que nunca tremera no meio do combate, caiu inerte; escapou-lhe o arco, só com a idéia de que a seta que ia atirar pudesse assustar a menina, quanto mais ofendê-la.”
Capítulo XIV A Xácara
Era a terceira vez que esses “inimigos da casa” escapavam de sua mão, por uma espécie de fatalidade.
Tinha receio de enfrentar os inimigos frente a frente, de morrer e deixar que eles executassem o plano que só ele, Peri, conhecia.
Foi conversar com Álvaro que já o esperava:
“- Dizei-me, Peri, Falaste de inimigos?
– Sim, respondeu o índio.
– Quero conhecê-los.
– Para quê?
– Para atacá-los.
– Mas são três.
– Melhor.”
O índio pondera que quer combater apenas os inimigos de sua senhora e que, se morrer, Álvaro já sabe o que fazer: terá de protegê-la. Álvaro fica sabendo que se trata de uma revolta e se espanta. Peri suplica que ele cuide da senhora, Álvaro diz que daria a ela sua vida também.
Álvaro sugere que Peri conte os problemas a D. Antônio; Peri diz que Álvaro e D. Antônio devem lutar com homens que os ataquem pela frente, mas que aqueles os atacariam por trás.
Peri vê Ceci na janela do quarto dela, e conversam.
Ela diz que quer ensiná-lo a ler, a respeitar Deus para que seja um cavalheiro como o pai e o irmão, que depois bordaria para ele um manto como o que os brancos usavam. Peri diz que é livre, Ceci bate a porta do quarto. Peri ouve uma viola espanhola e uma voz que , suavemente, canta uma xácara. Xácara é um poema narrativo, de origem árabe:
“Foi um dia- Infanção mouro
deixou
Alcáçar de prata e ouro,
montado no seu corcel.
Partiu
Sem pajem, sem anadel,
do castelo à barbacã
chegou;
Viu uma formosa castelã.
Aos pés daquela a quem ama
jurou
ser fiel à sua dama.
A gentil dona e senhora
sorriu;
Ai! que isenta ela não fora!
“Tu és mouro; eu sou cristã.””
Leave a Reply