Saber fórmulas e entender cálculos não ajuda o vestibulando na hora
fatídica: a de escrever a redação. Parte obrigatória dos vestibulares
das três universidades estaduais paulistas, a redação é um desafio
totalmente diferente do restante da prova.
“Ela é feita
para avaliar uma competência que as outras questões não avaliam”,
afirma o professor da USP e do cursinho Anglo Francisco Platão Savioli.
Fuvest,
Unicamp e Unesp adotam critérios parecidos para avaliar os textos. As
equipes de correção ficam atentas a itens como adequação ao tema
proposto e ao gênero do texto, desenvolvimento argumentativo, coesão e
expressão. “O candidato precisa trazer alguma informação para o texto,
mostrar que tem conhecimento e defender aquilo que pensa”, diz a
diretora-executiva da Fuvest, Maria Thereza Fraga Rocco, responsável,
há cinco anos, pelos temas da redação no vestibular.
Este
ano, um batalhão de 400 pessoas fará a correção da Fuvest. Dessas, 60
vão trabalhar só na redação. Cada texto passa por dois avaliadores, que
não conhecem a correção um do outro. Caso as notas tenham discrepância
grande, a redação seguirá para um terceiro. Se a última nota não ficar
próxima de nenhuma das outras, a própria Maria Thereza assume a
correção. “Nesses casos, vale a minha nota.”
Na Unicamp
– único dos três vestibulares em que há a opção de escrever um texto
que não seja uma dissertação –, cerca de 20% das redações têm de passar
pelo terceiro corretor. “Elas podem ter até cinco releituras”, diz
Maurício Kleinke, coordenador de Pesquisa da Comvest, órgão responsável
pelo vestibular. Segundo ele, 2% das redações são anuladas. Na maioria
dos casos, por fugir da proposta.
Para não ter a
redação desclassificada, o candidato deve ficar atento aos aspectos
formais. “A análise é técnica. É avaliada na correção a capacidade do
candidato de se comunicar por escrito, de forma clara, sem tentar
enganar a banca”, diz Paulo Del Bianco, coordenador da correção da
Vunesp, que organiza o processo seletivo da Unesp.
Professor
da universidade, Rogério Chociay publicou um livro em que analisa as
dissertações de vestibulares antigos da Unesp. Ele apresenta, e
comenta, bons e péssimos exemplos de textos. “Algumas redações eu chamo
de ‘camicase’. São praticamente um voo para a morte, para a anulação.
Tem gente que escreve poesia, faz até desenho.”
1 Letra
O
candidato não precisa ter letra bonita, mas deve garantir que o
corretor consiga ler seu texto. “Uma letra garranchuda e ilegível
revela incapacidade de comunicar uma mensagem”, afirma Rogério Chociay.
2 Tamanho
A
redação deve ter um tamanho adequado, em geral entre 22 e 30 linhas. Um
texto muito curto revela a incapacidade do candidato de desenvolver o
tema. Mas ele também não deve ser muito grande. Tamanho excessivo pode
revelar dificuldade para concluir ideias. E nada de enganar os
corretores com letra grande ou margens falsas, para dar a impressão de
um texto mais longo.
3 ‘Lúdicas’
Nenhuma
banca de vestibular leva em conta produções que não sejam textos.Mostra
de ingenuidade ou ousadia, redações “lúdicas” são anuladas de imediato
por fuga do gênero.
4 Fuga do tema
Nunca
se deve fugir do tema proposto. “O vestibulando deve mostrar que
apreendeu a questão em debate”, diz o professor Francisco Platão
Savioli, da USP e do Anglo.
5 Fuga do gênero
Com
exceção da Unicamp, em que a redação também pode ser uma carta ou
narração, os grandes vestibulares pedem textos dissertativos. Não
escreva textos que fujam ao que foi pedido, nem desenvolva ideias
“criativas”, como feito aqui.
6 Sem argumentação
O
corretor tem um sério motivo para desconsiderar um texto em que não há
argumentação. “Na redação você tem que desenvolver um raciocínio, não
pode ficar dizendo sempre a mesma coisa”, diz Maria Thereza Fraga
Rocco, da Fuvest.
7 Poesia
“Não
escreva nada além de prosa. Se você é um excelente poeta, ótimo. Mas
não em dia de redação”, recomenda a professora de Português do Etapa
Célia Passoni.
A boa
Rogério
Chociay destaca em seu livro que boas redações apresentam coerência,
uso da norma culta da língua, além de argumentos a favor de uma
posição. “Não precisa ser original, mas dar uma proposta sustentável”,
diz Francisco Platão.
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