A Unicamp fará mudanças em seu Vestibular Nacional com o objetivo de
promover a atualização acadêmica e programática e aprimorar a
seletividade do certame. As alterações, que valerão para o próximo
exame, voltado aos ingressantes de 2011, incluem a substituição das
questões dissertativas pelas de múltipla escolha e a ampliação de um
para três textos referentes à redação, provas que constituem a primeira
fase.
Na segunda fase, os candidatos responderão a 24 questões
dissertativas em cada um dos três dias, relativas a três áreas do
conhecimento: Matemática (12) e Língua Portuguesa e Literatura (12),
Ciências da Natureza (8 de Física, 8 de Química e 8 de Ciências
Biológicas) e Ciências Humanas e Artes (pelo menos 8 de História e 8 de
Geografia, 6 de Língua Inglesa e até 2 entre Filosofia, Sociologia e
Artes). “Estamos convencidos de que essas modificações aprimorarão o
nosso processo de seleção, cuja qualidade sempre foi muito elevada”,
afirma o coordenador da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest), Renato Pedrosa. [VÍDEO]
De acordo com
ele, a revisão do vestibular vinha sendo discutida pelo menos desde
2005, dentro de um processo permanente de avaliação instituído pela
Universidade. Há questão de um ano, porém, as propostas começaram a
evoluir. Até a aprovação por unanimidade, na quinta-feira, pela Câmara
Deliberativa do Vestibular, instância responsável por esse tipo de
medida, as sugestões de modificações foram exaustivamente analisadas e
submetidas a um amplo debate nas unidades de ensino e pesquisa da
instituição. Os dois principais pontos motivadores da revisão do
certame, assinala Pedrosa, foram a necessidade de promover a atualização
acadêmica e programática e de aprimorar a seletividade do exame,
notadamente na primeira fase. Em relação ao primeiro aspecto, o
coordenador da Comvest explica que o Vestibular da Unicamp foi formulado
originalmente em uma época em que o ensino médio era dividido em
disciplinas tradicionais como matemática, física, química e história,
entre outras. Estas, segundo Pedrosa, constituíam a estrutura das duas
fases do exame.
Com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases
(LDB) da Educação e com o advento das novas orientações dos parâmetros
curriculares, nos âmbitos estaduais e federal, ocorreu a reestruturação
da educação básica. Como consequência, foram definidas três grandes
áreas do conhecimento, assim divididas: Linguagem e Códigos, Ciências da
Natureza e Ciências Humanas e Artes. “Havia a necessidade de adequar o
Vestibular da Unicamp a essa nova realidade. Além disso, nós já vínhamos
discutindo a necessidade de introduzir mudanças que pudessem estimular a
integração do conhecimento e a busca pela interdisciplinaridade, metas
originais do nosso exame”, justifica o coordenador da Comvest. O segundo
fator motivador da revisão, diz, foi a constatação de que seria preciso
aperfeiçoar a seletividade do certame.
Pedrosa observa que a
Universidade havia adotado algumas providências nesse sentido
anteriormente, principalmente em razão do crescimento significativo do
número de candidatos ao longo dos anos. “Inicialmente, todos os
vestibulandos que auferiam 50% dos pontos eram automaticamente
classificados para a segunda fase. Esse critério foi abandonado em 1998,
pois ele nos criava um problema de logística, visto que, com a
ampliação do contingente de candidatos a cada ano, nós éramos obrigados a
corrigir cada vez mais provas. Assim, nós limitamos os aprovados para a
segunda fase em 25 candidatos por vaga, o que na prática atingia dois
ou três cursos. Depois, reduzimos ainda mais esse número, estabelecendo
um teto de oito candidatos por vaga. Ainda assim, tínhamos claro que era
indispensável avançar em relação ao aperfeiçoamento do modelo”, relata.
“Tendo em vista as análises conduzidas por uma comissão
designada pela Câmara Deliberativa da Comvest, atualizada duas vezes ao
longo dos últimos quatro anos, a Universidade chegou finalmente a uma
proposta de revisão do vestibular que contemplasse os objetivos
estabelecidos. Conforme Pedrosa, os estudos indicaram a necessidade de
se ampliar a primeira fase. Assim, decidiu-se por aumentar o número e a
abrangência das questões e alterar o modelo de redação, que agora
passará a ser composta por três textos, em diferentes gêneros. “Os
vestibulandos terão cinco em vez de quatro horas para fazer a prova, com
pelo menos 50 minutos para cada texto e 3 minutos para cada questão.
Essas alterações somente seriam possíveis se adotássemos o formato de
múltipla escolha, o que acabou sendo aprovado pela Câmara Deliberativa.
Do contrário, seríamos obrigados a realizar a primeira fase em dois dias
distintos, alternativa que não seria boa nem para os candidatos e nem
para a Universidade”, esclarece Pedrosa.
Sobre a adoção das
questões de múltipla escolha, o coordenador da Comvest assegura que o
modelo não trará, como alguns podem pensar a princípio, qualquer
prejuízo à avaliação dos concorrentes a uma vaga na Unicamp. “Ao
contrário, dentro da proposta que formulamos, a alteração ajudará a
aperfeiçoar a seleção”. De acordo com ele, do ponto de vista da análise
do conhecimento e dos aspectos cognitivos demonstrados pelos
vestibulandos, as questões dissertativas e de múltipla escolha se
aproximam muito em termos de eficácia. “Há uma particular habilidade,
que é a da escrita, que obviamente deixa de ser considerada numa prova
de múltipla escolha. Entretanto, esse tipo de avaliação será feita, de
maneira ainda mais efetiva, por meio da redação, que exigirá do
candidato excelente domínio da língua portuguesa e elevada habilidade
para formular argumentos e concatenar ideias”, pondera.
Ainda em
relação à adoção do modelo de múltipla escolha, Pedrosa argumenta que,
graças à ampliação do número de questões, será possível alargar a
abrangência dos temas abordados e promover a interação entre as três
grandes áreas do conhecimento, o que certamente permitirá uma avaliação
mais aprofundada das competências dos vestibulandos. O coordenador do
Vestibular da Unicamp descarta a possibilidade de o “exame de
cruzinhas”, como é popularmente chamado, dar maiores chances aos
candidatos com grande “desenvoltura” para o chute. Segundo ele, a
qualidade das questões não está associada diretamente ao formato da
prova. O dirigente da Comvest reforça que está comprovado que exames de
múltipla escolha, desde que bem formulados, podem atingir o mesmo
objetivo dos dissertativos. “O estudante que não estiver bem preparado
continuará tendo dificuldades para passar à fase seguinte. Mesmo assim,
na hipótese de o candidato promover uma loteria e se dar bem, ele
dificilmente obterá aprovação na segunda etapa do exame, que exigirá
dele mais do que ‘sorte’”, prevê.
Sobre esse aspecto, Pedrosa
tranquiliza os aspirantes a uma vaga na Unicamp. Ele considera que as
mudanças não tornarão o vestibular mais difícil e nem exigirá uma
preparação diferenciada por parte dos candidatos. “De maneira geral, o
estudante que teve um bom desempenho no ensino médio continuará tendo
boas chances de ser aprovado”. Ainda em relação às novidades que serão
introduzidas no certame de 2011, o coordenador da Comvest destaca que as
disciplinas – e consequentemente as áreas – passarão a ter peso
diferente do atual na nota final, desconsiderado o Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) e as provas prioritárias. Nessa condição, o peso da
redação, por exemplo, passa de 10% para 12,5%, o mesmo ocorrendo com
Língua Portuguesa e Literatura. Já o peso da Matemática subirá de 11,7%
para 15,6%. “Essas mudanças demonstram que o Vestibular da Unicamp
valorizará ainda mais habilidades como a leitura, o domínio da escrita e
a capacidade analítica dos vestibulandos”, resume Pedrosa.
No
que toca ao Enem, antecipa o coordenador da Comvest, o resultado do
exame será usado da mesma forma como ocorre atualmente, ou seja, 20% na
primeira fase. A tendência, de acordo com ele, é que a utilização desse
indicador seja obrigatória para todas as instituições de ensino
superior. A decisão final deverá sair em janeiro próximo. “A prova do
Enem tem boa qualidade seletiva. São 180 itens de todas as áreas do
conhecimento, que permitem uma boa comparabilidade nacional. Quanto mais
se avalia com boa qualidade, melhor o resultado”, considera Pedrosa.
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COMO ESTÁ |
PROPOSTA |
1ª FASE |
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DURAÇÃO |
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QUESTÕES |
12 questões dissertativas |
48 questões de múltipla escolha |
REDAÇÃO |
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ENEM |
20% da nota da primeira fase, uso opcional |
20% da nota da primeira fase, obrigatório a todos os candidatos |
CLASSIFICAÇÃO PARA 2ª FASE |
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2ª FASE |
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DURAÇÃO |
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PROVAS |
12 questões dissertativas de cada disciplina, totalizando 24 questões por dia:
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24 questões dissertativas a cada dia:
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APTIDÃO |
Provas que avaliam habilidades específicas. Obrigatórias para candidatos de: Artes, Arquitetura e Urbanismo |
Não muda, passa a ser denominada Prova de Habilidades Específicas |
PRIORITÁRIAS |
Até duas provas da segunda fase com pesos 1 ou 2, exceto Aptidão (peso fixo 2) |
Até duas provas, com pesos
|
OPÇÕES POR CURSOS |
Até duas, em qualquer curso, exceto aqueles que exigem Prova de Aptidão, que não podem ser segunda opção |
Não muda |
NOTA FINAL E CLASSIFICAÇÃO |
Média ponderada das notas padronizadas, segundo as opções, cada curso estabelece as notas mínimas nas provas prioritárias para manter a preferência para 1ª opção na classificação |
Não muda |
NÚMERO DE QUESTÕES |
108 questões dissertativas + 1 texto de redação |
120 questões (72 dissertativas + 48 múltipla escolha) + 3 textos de redação |
Edgar de Decca
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