A tristeza invade Augusto, mas lago nele começa a reavivar o homem forte, ao lado do humilde que viva pacificamente, pregando o bem. “Até que, pouco, a pouco, devagarinho, imperceptível, alguma cousa pegou a querer voltar para ele, a crescer-lhe do fundo para fora, sorrateira como a chegada do tempo das águas, que vinha vindo paralela (…), Nhô Augusto agora tinha muita fome e muito sono. O trabalho entusiasmava e era leve. Não tinha precisão de enxotar as tristezas. Não pensava nada…”
Certo dia, chega ao reduto de Matraga o bando do temido Joãozinho Bem-Bem. O povo não se mexia de tão apavorado, mas Nhô Augusto acolhe-os e os trata com hospitalidade.
Nhô Augusto, depois de servir a cachaça, bebeu também, dois goles, e pediu uma dos papo-amarelo , para ver:
— Não faz conta de balas, amigo? Isto é arma que cursa longe…
— Pode gastar as oito. Experimenta naquele pássaro ali, na pitangueira…
— Deixa de criaçãozinha de Deus. Vou ver só se corto o galho… Se errar, vocês não reparem, porque faz tempo que eu não puxo dedo em gatilho…
Fez fogo.
— Mão mandona, mano velho. Errou o primeiro, mas acertou um em dois… Ferrugem em bom ferro!
Mas, nesse tento, Nhô Augusto tornou a fazer pelo-sinal e entrou num desânimo, que não o largou mais.
Ressurge em Matraga o valente que ele procurava esquecer. Quando Joãozinho Bem-Bem está de partida, convida-o para acompanhá-lo, fazer parte do bando. “Ah, que vontade de aceitar e ir também…” Matraga vence a tentação, recusa com o coração partido. “E, à noite, tomou um trago sem ser por regra, o que foi bem bom, porque ele já viajou, do acordado para o sono, montando num sonho bonito, no qual havia um Deus valentão, o mais solerte de todos os valentões,, assim parecido com seu Joãozinho Bem-Bem, e que o mandava ir brigar, só para lhe experimentar a força, pois que ficava lá em-cima, sem descuido, garantindo tudo”.
3º Movimento: “Cada um tem a sua hora e a sua vez…”
Recuperado fisicamente, Augusto Matraga resolve sair de seu reduto, caminhar a fim de encontrar sua hora. Caminha sem destino, quando chega a lugarejo em que , por coincidência estavam Joãozinho Bem-Bem e seu bando prontos para executar uma família, para se vingarem da morte de um capanga.
O velho chefe da família, pede, implorando para que só ele morra. Mas Bem-Bem se recusa a aceitar o pedido do velho, alegando ser regra… “Senão, até quem é mais que havia de querer obedecer a um homem que não vinga gente sua, morta de traição?… É regra.”
Augusto interfere, opondo-se à vingança. Há um duelo em que Joãozinho Bem-Bem e Augusto Matraga saem mortos. Morrem como irmãos, Joãozinho dizendo:
— Estou no quase, mano velho… Morro, mas morro na faca do homem mais maneiro de junta e de mais coragem que eu já conheci!… Eu sempre lhe disse quem era bom mesmo, mano velho… é só assim que gente como eu tem licença de morrer… Quero acabar sendo amigos…
— Feito, meu parente, seu Joãozinho Bem-Bem. Mas, agora, se arrepende dos pecados, e morre logo como um cristão, que é pra gente poder ir junto…
Mas, seu Joãozinho Bem-Bem, quando respirava, as rodilhas dos intestinos subiam e desciam. Pegou a gemer. Estava no entorcer do fim. E, como teimava em conversar, apressou ainda mais a despedida. E foi mesmo.
No que restou de sua vida, Matraga é reconhecido por um primo.
Então, Augusto Matraga fechou um pouco os olhos, com sorriso intenso nos lábios lambuzados de sangue, e de seu rosto subia um sério contentamento.
Daí, mais, olhou, procurando João Lomba, e disse, agora sussurrado, sumido:
— Põe a benção na minha filha… seja lá onde for que ela esteja… E, Dionora… Fala com a Dionora que está tudo em ordem!
Depois morre
Por: LiteraturaVirtual – João Amálio Ribas
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